A estearia do Formoso: um enclave Inciso-Ponteado/Arauquinoide no Maranhão
DOI:
https://doi.org/10.24885/sab.v36i2.1025Palavras-chave:
Estearias, Baixada Maranhense, Tradição Inciso-Ponteada/Arauquinoide, Fase FormosoResumo
Este artigo debruça-se na estearia do Formoso, um sítio arqueológico pré-colonial formado por palafitas na região estuarina da Baixada Maranhense. A análise do material cerâmico desse sítio evidenciou características tecnológicas semelhantes à da Tradição Inciso-Ponteada/Arauquinoide. Nesse sentido, sugere-se uma nova fronteira geográfica para a dispersão dessa Tradição, sendo o Maranhão, a porção mais oriental da expansão destes grupos humanos. A análise espacial do assentamento mostrou uma área linear conectada, possivelmente por uma ponte, a outro conjunto circular. O estudo dos artefatos coletados corroborou para a interpretação de que a área linear é um espaço mais cerimonial enquanto que a circular, mais residencial. A estearia do Formoso apresenta uma forma inédita de habitação indígena nunca antes descrita na Antropologia e na Arqueologia das Terras Baixas da América do Sul.
Downloads
Referências
AB’SABER, Aziz N. Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o pantanal matogrossense: patrimônios básicos. Cotia: Ateliê, 2006.
ALENCASTRE, José M. P. de. Memoria chronologica, historica e corographica da Provincia do Piauhy. Revista do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, v. 20, p. 5-164, 1857.
ARAÚJO, Naíla A. de et al. Os mitos do lago Formoso em Penalva, Baixada Maranhense: uma estratégia de conservação que desaparece. Revista Pós Ciências Sociais, v. 12, n. 24, p. 277-300, 2015.
ARNOLD, D. E. Ceramic Theory and Cultural Process. Cambridge (GB): Cambridge University Press, 1985.
BARRETO, Cristiana. Corpo, comunicação e conhecimento: reflexões para a socialização da herança arqueológica na Amazônia. Revista de Arqueologia, v. 26, n. 1, p. 112-129, 2013.
BECQUELIN, P. Recherches archéologiques dans le Haut Xingu, Mato Grosso, Brésil. Journal de la Société des Américanistes, v. 86, p. 9-48, 2000.
BLACK, Francis L. et al. Failure of linguistic to predict genetic distances between the Waiãpi and other tribes of Lower Amazonia. American Journal of Physical Anthropology, v. 60, p. 327-335, 1983.
BOOMERT, Arie. Gifts of the Amazons: “green stone” pendants and beads as items of ceremonial exchange in Amazonia and the Caribbean. Antropologica, v. 67, p. 33-54, 1987.
COSTA, Karina S. P. et al. Estudo da potencialidade hídrica da Amazônia maranhense através do comportamento de vazões. In: MARTINS, Marlúcia B.; OLIVEIRA, Tadeu G. de (org.). Amazônia maranhense: diversidade e conservação. Belém: MPEG, 2011. p. 71-89.
COSTA, Maria H. F.; MALHANO, Hamilton B. Habitação indígena brasileira. In: RIBEIRO, Darcy (ed.). Suma etnológica brasileira. Rio de Janeiro: Vozes, 1986. v. 2, p. 27-94.
COUTET, Claude. Archéologie du littoral de Guyane: une approche technologique de la céramique amérindienne. Saarbrücken (DE): Universitaires Européennes, 2011.
COUTET, Claude. La Tradición Arauquinoíde de la Guyana Francesa: los complejos Barbakoeba y Thémire. In: BARRETO, Cristiana; LIMA, Helena P.; BETANCOURT, Carla J. (org.). Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese. Belém: Iphan: Ministério da Cultura, 2016. p. 75-90.
CROCKER, William H.; CROCKER, Jean G. The Canela: Kinship, Ritual, and Sex in an Amazonian tribe. 2. ed. Belmont (US): Wadsworth, 2004.
CRUXENT, José M.; ROUSE, Irving. An Archaeological Chronology of Venezuela. Washington, DC (US): Pan American Union, 1958-1959. 2 v.
DANIEL, João. Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004 [1174-1776]. 2 v.
D’ABEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Brasília, DF: Senado Federal, 2008 [1614]. (Edições do Senado Federal, 105).
D’ÉVREUX, Yves. Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos 1613 e 1614. Brasília, DF: Senado Federal, 2008 [1615]. (Edições do Senado Federal, 94).
FARIAS FILHO, Marcelino S. Histórico de ocupação e evolução dos aspectos humanos da microrregião da Baixada Maranhense. In: NAVARRO, Alexandre G. (org.). A civilização lacustre e a Baixada Maranhense: da Pré-História dos campos inundáveis aos dias atuais. São Luís: Café e Lápis: Edufma, 2019. p. 69-87.
FAUSTO, Carlos. Inimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: Edusp, 2001.
FERGUSON, Richard B. Yanomami warfare: a political history. Santa Fe (US): School of American Research Press, 1995.
FRANCO, J. R. C. Segredos do rio Maracu: a hidrogeografia dos lagos de reentrâncias da Baixada Maranhense, sítio Ramsar, Brasil. São Luís: Edufma. 2012.
GOMES, Denise M. C. Cerâmica arqueológica da Amazônia: vasilhas da coleção Tapajônica MAE-USP. São Paulo: Edusp: Fapesp, 2002.
GOMES, Denise M. C. Images of Transformation in the Lower Amazon and the Performativity of Santarém and Konduri pottery. Journal of Social Archaeology, v. 22, n. 1, p. 82-103, 2022.
GOMES, Denise M. C. O lugar dos grafismos e das representações na arte pré-colonial amazônica. Mana, v. 22, n. 3, p. 671-703, 2016.
GOMES, Denise M. C. Politics and Ritual in Large Villages in Santarém, Lower Amazon, Brazil. Cambridge Archaeological Journal, v. 27, n. 2, p. 275-293, 2017.
GUAPINDAIA, Vera Lúcia C. Além da margem do rio: a ocupação Konduri e Pocó na região de Porto Trombetas, PA. 2008. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
HECKENBERGER, Michael J. The Ecology of Power: Culture, Place, and Personhood in the Southern Amazon, A.D. 1000-2000. New York (US): Routledge, 2005.
HUGH-JONES, Christine. From the Milk River: Spatial and Temporal Processes in Northwest Amazonia. Cambridge (GB): Cambridge University Press, 1979.
HUGH-JONES, Stephan. The Palm and the Pleiades: Initiation and Cosmology in Northwest Amazonia. Cambridge (GB): Cambridge University Press, 1979.
IRIARTE, José et al. Geometry by Design: Contribution of Lidar to the Understanding of Settlement Patterns of the Mound Villages in SW Amazonia. Journal of Computer Applications in Archaeology, v. 3, n. 1, p. 151-169, 2020.
KIDDER II, Alfred. Archaeology of Northwestern Venezuela. Cambridge (US): Peabody Museum Press, 1948.
LATHRAP, Donald W. The Upper Amazon. London (UK): Thames and Hudson, 1970.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Guerra e comércio entre os índios da América do Sul. In: SCHADEN, Egon (org.). Leituras de etnologia brasileira. São Paulo: Editora Nacional, 1976. p. 325-339.
LOPES, Raimundo. A civilização lacustre do Brasil. Boletim do Museu Nacional, v. 1, n. 2, p. 87-109, 1924.
LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1970. (Coleção São Luís, 2).
MARTINS, Marlúcia B.; OLIVEIRA, Tadeu G. de (org.). Amazônia maranhense: diversidade e conservação. Belém: MPEG, 2011.
MATTA, Roberto da. Um mundo dividido: a estrutura social dos índios Apinayé. Petrópolis: Vozes, 1976.
MEGGERS, Betty. Amazônia: a ilusão de um paraíso. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976.
MEGGERS, Betty J.; EVANS, Clifford. An Experimental Formulation of Horizon Styles in the Tropical Forest Area of South America. In: LOTHROP, Samuel K. (ed.) Essays in Pre-Columbian Art and Archaeology. Cambridge (US): Harvard University Press, 1961. p. 372-388.
MEGGERS, Betty J.; EVANS, Clifford. Archeological Investigations at the Mouth of the Amazon. Washington, DC (US): Smithsonian Institution, 1957. (Bureau of American Ethnology Bulletin, 167).
MELATTI, Julio C. Índios do Brasil. São Paulo: Edusp, 2007.
MORAES, Caio A. de et al. Holocene Coastal Environmental Changes Inferred by Multi-Proxy Analysis from Lago Formoso sediments in Maranhão State, Northeastern Brazil. Quaternary Science Reviews, v. 273, 107-234, 2021.
MORAES, Claide de P. Aldeias circulares na Amazônia Central: um contraste entre fase Paredão e Guarita. In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: Iphan, 2010. v. 2, p. 581-604.
NIMUENDAJÚ, Curt. A habitação dos Timbira. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 8, p. 76-101, 1944.
NIMUENDAJÚ, Curt. The Eastern Timbira. Berkeley (US): University of California Press, 1946. (University of California Publications in American Archaeology and Ethnology, 41).
NIMUENDAJÚ, Curt. The Gamella Indians. Primitive Man, v. 10, n. 3/4, p. 58-71, 1937.
NAVARRO, Alexandre G. As cidades lacustres do Maranhão: as estearias sob um olhar histórico e arqueológico. Diálogos, v. 21, n. 3, p. 126-142, 2017.
NAVARRO, Alexandre G. La anaconda como serpiente-canoa: mito y chamanismo en la Amazonía Oriental, Brasil. Boletín de Antropologia, v. 36, n. 61, p. 164-186, 2021.
NAVARRO, Alexandre G. Morando no meio de rios e lagos: mapeamento e análise cerâmica de quatro estearias do Maranhão. Revista de Arqueologia, v. 31, n. 1, p. 73-103, 2018a.
NAVARRO, Alexandre G. New Evidence for Late First-Millennium AD Stilt-House Settlements in Eastern Amazonia. Antiquity, v. 92, n. 366, p. 1586-1603, 2018b.
NAVARRO, Alexandre G. O complexo cerâmico das estearias do Maranhão. In: BARRETO, Cristiana; LIMA, Helena P.; BETANCOURT, Carla J. (org.). Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese. Belém: Iphan: Ministério da cultura, 2016. p. 167-177.
NAVARRO, Alexandre G.; PROUS, André. Os muiraquitãs das estearias do Lago Cajari depositados no Museu Nacional (RJ): estudo tecnológico, simbólico e de circulação de bens de prestígio. Revista de Arqueologia, v. 33, n. 2, p. 66-91, 2020.
NAVARRO, Alexandre G.; REIS, A. H. C.; OLIVEIRA, W. C. Arqueologia nas fronteiras da Baixada Maranhense: as ocupações pré-históricas dos sítios Boca do Campo e Mearim 01 e possíveis relações com as estearias. Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia, v. 8, p. 62-92, 2020.
NAVARRO, Alexandre G.; ROOSEVELT, Anna C. New Evidence of the Formative in the Amazon: A Stilt Village Culture in Maranhão, Brazil. Boletín Antropológico, ano 39, n. 102, p. 196-224, 2021.
NAVARRO, Alexandre G. et al. O muiraquitã da estearia da Boca do Rio, Santa Helena, Maranhão: estudo arqueológico, mineralógico e simbólico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Ciências Humanas, v. 12, n. 3, p. 869-894, 2017.
ORAMAS, Luis R. Apuntes sobre arqueología venezolana. In: PAN AMERICAN SCIENTIFIC CONGRESS, 2, 1916, Washington, DC (US). Proceedings […]. Washington, DC (US): Government Printing Office, 1917. p. 138-145.
OVIEDO Y VALDÉS, Gonzalo F. de. Historia General y Natural de las Indias, Islas y Tierras-Firme del Mar Océano. Madrid (ES): Real Academia de la Historia, 1851 [1535].
PESSOA, Cliverson et al. Aldeia circular e os correlatos da ocupação indígena na margem esquerda da Cachoeira de Santo Antônio. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Ciências Humanas, v. 15, n. 2, e20190083, 2020.
PORRO, Antônio. As crônicas do Rio Amazonas: tradução, introdução e notas etno-históricas sobre as antigas populações indígenas da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1993.
PORRO, Antônio. O povo das águas: ensaios de etno-história amazônica. Manaus: Edua, 2017.
RAYMOND, J. S. From Potsherds to Pots: A First Step in Constructing Cultural Context from Tropical Forest Archaeology. In: STAHL, P. (ed.). Archaeology in the Lowland American Tropics: Current Analytical Methods and Applications. Cambridge (GB): Cambridge University Press, 1985. p. 224-242.
REICHEL-DOLMATOFF, Gerardo. Amazonian Cosmos: The Sexual and Religious Symbolism of the Tukano Indians. Chicago (US): University of Chicago Press, 1971.
RICE, Prudence M. Pottery Analysis: A Sourcebook. Chicago (US): Chicago University Press, 1982.
ROOSEVELT, Anna C. Early Pottery in the Amazon: Twenty Years of Scholarly Obscurity. In: BARNETT, William K.; HOOPES, John W. The Emergence of Pottery: Technology and Innovation in Ancient Societies. Washington, DC (US): Smithsonian Institution Press, 1995. p. 115-131.
ROOSEVELT, Anna C. Method and Theory of Early Farming: the Orinoco and Caribbean Coasts of South America. Earth Science Research, v. 6, n. 1, p. 1-42, 2017.
ROOSEVELT, Anna C. Moundbuilders of the Amazon: Geophysical Archaeology on Marajo Island, Brazil. San Diego (US): Academic Press, 1991. (Studies in Archaeology).
ROOSEVELT, Anna C. Parmana: prehistoric maize and manioc subsistence along the Amazon and Orinoco. New York (US): Academic Press, 1980. (Studies in Archaeology).
ROOSEVELT, Anna C. The excavations at Corozal, Venezuela: stratigraphy and ceramic seriation. New Haven (US): Yale University, 1997. (Yale University Publications in Anthropology, 83).
ROSTAIN, Stéphen. Cacicazgos guyanenses: mito o realidad? In: PEREIRA, Edithe; GUAPINDAIA, Vera (org.). Arqueologia amazônica. Belém: MPEG: Iphan, 2010. v. 1, p. 169-192.
ROSTAIN, Stéphen. La cerámica de las Guyanas. In: BARRETO, Cristiana; LIMA, Helena P.; BETANCOURT, Carla J. (org.). Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese. Belém: Iphan: Ministério da Cultura, 2016. p. 59-74.
ROSTAIN, Stéphen; VERSTEEG, Aard H. The Arauquinoid Tradition in the Guianas. In: DELPUECH, André; HOFMAN, Corinne L. (ed.). Late Ceramic Age Societies in the Eastern Caribbean. London (GB): Archaeopress, 2004. p. 233-250. (Bristish Archaeological Report International Series, 1273).
ROTH, Walter E. An Inquiry into the Animism and Folklore of the Guiana Indians. Thirtieth Annual Report of the Bureau of American Ethnology, 1908-1909, p. 103-386, 1915.
SÁ, Cristina. Observações sobre a habitação em três grupos indígenas brasileiros. In: NOVAES, Sylvia M. C. (org.). Habitações Indígenas. São Paulo: Nobel: Edusp, 1983. p. 103-145.
SHEPARD, A. Ceramics for the Archaeologist. Washington, DC: Carnegie Institution of Washington, 1956. (Publication, 609).
SILVA JUNIOR, J. S. E.; NAVARRO, Alexandre Guida. Cosmologia e adaptação ecológica: o caso dos apliques-mamíferos das estearias maranhenses. Revista Anthropológicas, v. 30, p. 203-233, 2020.
SIMÕES, Mário F. Índice das fases arqueológicas brasileiras: 1950-1971. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1972. (Publicações avulsas, 18).
TONEY, Joshua. Cerâmica e história indígena do Alto Xingu. In: BARRETO, Cristiana; LIMA, Helena P.; BETANCOURT, Carla J. (org.). Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese. Belém: Iphan: Ministério da Cultura, 2016. p. 235-247.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo (org.). Antropologia do parentesco: estudos ameríndios. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995.
WILLEY, Gordon R. An Introduction to American Archaeology: South America. Englewood Cliffs (US): Prentice-Hall, 1971. v. 2.
WÜST, Irmhild; BARRETO, Cristiana. The Ring Villages of Central Brazil: a challenge for Amazonian Archaeology. Latin American Antiquity, v. 10, n. 1, p. 3-23, 1999.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Alexandre Guida Navarro

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.