Restos Humanos Calcinados
Cremação em Abrigo ou Sepultamento de Cinzas?
DOI:
https://doi.org/10.24885/sab.v11i1.139Resumo
O achado de restos humanos cremados em um nível de ocupação superior do abrigo denominado Furna do Estrago, em Pernambuco, Brasil, feito pela equipe da Universidade Católica de Pernambuco, trouxe de volta à discussão o uso dos abrigos do Nordeste do Brasil por grupos humanos que incluiriam a cremação entre suas práticas funerárias. No presente caso, foi achada uma grande fogueira sobre uma fossa de contorno ovalado, de aproximadamente 90cm no maior diâmetro, por cerca de 40cm de profundidade, contendo cinzas, vestígios de matéria corante (ocre) e fragmentos de ossos queimados ou calcinados, de um esqueleto humano adulto, provavelmente do sexo feminino. A reconstituição em laboratório dos ossos fragmentados e o mapeamento da distribuição da queima em diferentes regiões do esqueleto, permitiu definir sua posição em relação ao fogo e confirmar tratar-se apenas de um indivíduo, cujos lados mostravam ossos acentuadamente assimétricos devido à distribuição diferencial da exposição ao calor. A presença de fissuras associadas às linhas de esfesse; a torção de alguns ossos e a presença de restos carbonizados de partes moles, provavelmente músculos, permitiram confirmar a cremação de um corpo íntegro. Por sua vez, a desarticulação e fragmentação de ossos e o padrão de algumas fraturas observadas pÍrecem indicar impactos mecânicos sobre o esqueleto após a queima, provavelmente associados ao sepultamento das cinzas. A posição dos ossos, sua fragmentaçáo, o tamanho da fogueira, sua relação com os restos cremados e outras evidências permitem propor a hipótese de que após a queima, feita no próprio abrigo, os ossos tenham sido fragmentados e parte deles recalcada ou sepultada dentro da camada sedimentar pulverulenta que formava o solo do abrigo, abaixo dapirafunerárra. Adataçáo desta fogueira é 1040t50 AP (5I-6295) e os materiais associados aos ossos ainda estão sendo submetidos a análises especializadas, como a antracológica, para que maiores inferências possam ser propostas.
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