Práticas econômicas e sociais no sertão cearense no século XIX

um olhar sobre a cultura material de grupos domésticos sertanejos

Autores

  • Luís Cláudio P. Symanski1 Universidade Federal do Paraná - UFPR

DOI:

https://doi.org/10.24885/sab.v21i2.252

Palavras-chave:

sociedade sertaneja, cultura material, práticas econômicas

Resumo

Pesquisas em duas unidades domésticas camponesas oitocentistas do sertão do Cariri/CE forneceram informações sobre as práticas econômicas e sociais da população sertaneja dessa região. Utilizando uma estrutura conceitual da antropologia econômica, focalizada na noção de artefatos como commodities (Orser 1992), a variabilidade artefatual desses sítios foi abordada como indicativa de relações sociais em diferentes esferas de interação, indo da escala local, referente às relações sociais intra-grupos, à escala internacional, referente ao papel dos itens importados nessas comunidades. Verificou-se, assim, que a lógica econômica dessas comunidades foi predominantemente não-capitalista, sendo típica daquelas sociedades caracterizadas por Dumont (1977) como intrínsecas. Por sua vez, a análise diacrônica revelou uma notável manutenção dos padrões de vida material des- ses grupos, indicativa de que a estrutura social hierárquica da região manteve-se inalterada por todo o século XIX.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

APPADURAI, A. 1986. Commodities and the politics of value, In The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective, ed. A. Appadurai, Cambridge, Cambridge University Press, pp.3-63.

BAUGHER, S. 1982 Analysing glass bottles for chronology, function, and trade networks In:

DICKENS, Jr. & ROY, S. (eds.), Archaeology of urban America. The search for patterns and process. New York: Academic Press.

BEAUDRY, M. 1984 Archaeology and the historical household. Man in the Northeast 28:27-38.

BEAUDRY, M et alli. 1991 A vessel typology for early Chesapeake ceramics: the Potomac Typological System. In: Approaches to material culture research for historical archaeologists. California: The Society for Historical Archaeology.

BERNARDES, D. M. 2007. Notas sobre a formação social do Nordeste. Lua Nova 71:41-79.

BLANTON, R. 1994. Houses and Households: A Comparative Study. New York, Plenum Press.

BRANCANTE, E. F. 1981. O Brasil e a cerâmica antiga. São Paulo, Cia. Litográfica Ipiranga.

CASCUDO, L. C. 1977. Antologia da Alimentação no Brasil. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos.

DEAGAN, K. 1991. Historical archaeology’s contribution to our understanding of early America. In FALK, L. (ed.), Historical Archaeology. Washington, DC, Smithsonian Institution Press, pp. 97-113.

DEETZ, J. 1977. In Small Things Forgotten. New York, Anchor Press.

DUMONT, L. 1977. From Mandeville to Marx: the genesis and triumph of the economic ideology. Chicago, University of Chicago Press.

FERGUSON, L. 1992. Uncommon Ground: Archaeology and Early African America, 1650-1800. Washington and London, Smithsonian Institution Press.

FERRAZ, T. V. 2004. A Formação da Sociedade no Sertão Pernambucano: trajetória de núcleos familiares. Dissertação de mestrado, Recife, Universidade Federal de Pernambuco.

GIRÃO, R. 1971. Pequena História do Ceará. Fortaleza, Imprensa Universitária. GROSS, S. A.

___. 1968. Religious sectarianism in the sertão of Northeast Brazil 1815-1966. Journal of Inter-American Studies 3:369-383.

HUME, I. N. 1991. A guide to artifacts of colonial America. New York, First Vintage Books.

JOHNSON, A. 1997. The psichology of dependence between landlord and sharecrooper in Nor-

theastern Brazil. Political Psichology 18 (2):411-438.

JONES, O. & SULLIVAN, C. 1989. Glass Glossary. Quebec, Canadian Parks Service.

KEARNEY, M. 1996. Reconceptualizing the Peasantry: Anthropology in Global Perspective. Boulder, Westview Press.

KLEIN, T. 1991. Nineteenth-century ceramics and models of consumer behavior. Historical Ar-

chaeology 25 (2): 77-91.

KOVEL, R. & KOVEL, T. 1986. Kovel’s new dictionary of marks – Pottery and Porcelain. New York, Crown Publishers.

KOPYTOFF, I. 1986. The cultural biography of things: commoditization as process. In Appadurai, A. (Ed.) The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective. Cambridge University Press, Cambridge, pp.64-91.

KROEBER, A. L. 1948. Anthropology. New York, Harcourt, Brace and Co.

LIMA, T. A. 1999. El huevo de la serpiente: una arqueologia del capitalismo embrionário en el Rio de Janeiro del siglo XIX. In: ZARANKIN, A., ACUTO, F (eds.). Sed non satiata – Teoria social en la arqueologia latinoamericana contemporánea. Buenos Aires, Ediciones del Tridente.

____. 2000. Chá e simpatia: uma estratégia de gênero no Rio de Janeiro oitocentista. Anais do Museu Palista: História e Cultura Material, 3:93-129.

LIMA, T. et al. 1989. Aplicação da Formula South a Sítios Históricos do Século XIX. Dédalo, 27:

-97.

____. 1989a. A tralha doméstica em meados do século XIX: reflexos da emergência da pequena

burguesia no Rio de Janeiro. Dédalo, Publicações Avulsas, São Paulo, (1): 205-230.

LITTLE, B. J. 1994. People with history: na update on historical archaeology in the United States. Journal of Archaeological Method and Theory 1 (1), pp.5-40.

MAJEWSKI, T. & O ́BRIEN, M. 1987 The use and misuse of nineteenth-century English and

American ceramics in archaeological analysis. Advances in Archaeological Method and Theory 11:97-209.

MARTINEZ, P. 2002 Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos séculos XIX

e XX. Revista Brasileira de História 22 (43):251-254.

MILLER, G. 1980. Classification and economic scaling of 19 th. century ceramics. Historical Archaeology, 14, pp.1-40.

____. 1991. A revised set of cc index values for classification and economic scaling of English ceramics from 1787 to 1880. Historical Archaeology, 25 (1), pp.1-25.

____. 2000. Telling time for archaeologists. Northeast Historical Archaeology 29:1-22.

MORAES, D. 2005. Trilhas e enredos no imaginário social de sertão no Piauí. Ensaio elaborado para o Seminário sobre Patrimônio Cultural. FUNDAC e UESPI, Terezina.

NEVES, F. 2005. A miséria na literatura: José do Patrocínio e a se de 1878 no Ceará. Tempo 11

(22):80-98.

ORSER, C. 1992. Beneath the material surface of things: commodities, artifacts, and slave plantations, Historical Archaeology, 26:3: 95-103.

____. 1996. A Historical Archaeology of the Modern World. New York, Plenum Press.

PLATTNER, S. 1989a Introduction. In: PLATTNER, S. (ED.), Economic Anthropology. Stanford,

Stanford University Press, pp:1-20.

____. 1989b Marxism. In PLATTNER, S. (ed.), Economic Anthropology. Stanford: Stanford University Press, pp. 379-396.

SCOTT, E. 1997. “A little gravy in the dish and onions in a tea cup”: What cookbooks reveal about material culture. International Journal of Historical Archaeology, 1 (2):131-156.

SINGELMANN, P. 1975. Political Structure and Social Banditry in Northeast Brazil. Journal of

Latin American Studies 7 (1):59-83.

SINGLETON, T. 1996. The archaeology of slave life. In: CAMPBELL, D. (ed.). Before the Freedom

Came. Richmond, Museum of Confederacy, pp.141-161.

SOUTH, S. 1972. Evolution and horizon as revealed in ceramic analysis in historical archaeology. The Conference on Historical Site Archaeology Papers 6:71-116. 1977 Method and Theory in Historical Archaeology. Academic Press, New York.

STELLE, L. 2001. An Archaeological Guide to Historical Artifacts of the Upper Sangamon Basin, Central Illinois, USA. Center For Social Research, Parkland College.

SYMANSKI, L. C. 2002. Louças e auto-expressão em regiões centrais, adjacentes e periféricas do Brasil. In Zarankin, A e Senatore, M. (eds.) Arqueologia da Sociedade Moderna na América do Sul: Cultura Material, Discursos e Práticas. Buenos Aires, Ediciones del Tridente, pp. 88-120.

____. 2006. Slaves and Planters in Western Brazil: material culture, identity and Power. Tese de doutorado, Gainesville, University of Florida.

____. 2007. A Presença Africana no Vale do Guaporé (MT). In Projeto Fronteira Ocidental, Relatório geral do ano de 2007. São Paulo, Zanettini Arqueologia.

Em preparação. Modernização agrária, cultura material e práticas sociais na Zona da Mata pernambucana e alagoense na segunda metade do século XIX.

SYMANSKI, L. C. & SOUZA, M. A. 2006. A Arqueologia Histórica: relações sociais e construção de identidades na região do Rio Manso, séculos XVIII e XIX In: FRAGA, L. (ed.) História e Antro-

pologia no Vale do Rio Manso. Editora UCG, Goiânia, pp. 241-264.

VIEIRA JÚNIOR, A. 2002. O açoite da seca: família e migração no Ceará (1780-1850). Trabalho

apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Ouro Preto (MG), 4 a 8 de novembro de 2002.

WOLF, E. 1982. Europe and the People without History. University of California Press, Berkeley.

ZANETTINI ARQUEOLOGIA. 2007a Programa de resgate do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da Ferrovia Transnordestina, trecho Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE), São Paulo, 26 pgs.

____. 2007b Programa de resgate do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da Ferrovia Transnordestina, trecho Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE). Termo de conclusão de campo, São Paulo, 145 pgs.

____. 2007c Projeto Fronteira Ocidental. Relatório geral do ano de 2007, São Paulo, 185 pgs.

____. 2008a Programa de resgate do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da Ferrovia Transnordestina, trecho Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE). Relatório de conclusão de laboratório, arqueologia histórica, São Paulo, 53 pgs.

____. 2008b Programa de Resgate do Patrimônio Arqueológico e Histórico-Cultural da Companhia Ferroviária do Nordeste, Trecho 3 (Cabo-Propriá). Relatório de conclusão de laboratório, São Paulo, 118 pgs.

Downloads

Publicado

2008-12-30

Como Citar

P. SYMANSKI1, Luís Cláudio. Práticas econômicas e sociais no sertão cearense no século XIX: um olhar sobre a cultura material de grupos domésticos sertanejos. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 21, n. 2, p. 73–96, 2008. DOI: 10.24885/sab.v21i2.252. Disponível em: https://revista.sabnet.org/ojs/index.php/sab/article/view/252. Acesso em: 28 out. 2025.

Edição

Seção

Artigo