Contextos funerários, espólios votivos e remanescentes humanos Kaingang no Estado de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.24885/sab.v32i1.614Palavras-chave:
Jê Meridional, Arqueologia Funerária, Remanescentes HumanosResumo
Os Kaingang de São Paulo, entre os séculos XIX e XX, sofreram diversas ocupações no seu território pela frente de expansão colonialista. A deturpação de antigos cemitérios foi recorrente, mas alguns remanescentes foram parcialmente preservados e se encontram dispersos pelo Estado de São Paulo. Aqui se procurou rever, a partir da literatura, o potencial informativo desses acervos. Foram encontradas referências a 21 montículos funerários Kaingang, 11 destruídos, 2 preservados e 8 em estado de preservação indeterminado. O espólio votivo de 10 túmulos indica que eles datam entre os séculos XIX e XX. O registro arqueológico revelou práticas funerárias anteriormente relatadas em dados históricos e etnográficos dos Kaingang de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Conclui-se que apesar desta natureza de exumação, eles podem ainda contribuir para a história recente Kaingang e talvez trazer novas perspectivas sobre a realidade dessas comunidades durante os dois últimos séculos.
Downloads
Referências
AMBROSETTI, Juan Bautista. 1895. Los índios Kaingangues de San Pedro, Misiones, con um vocabulário. Revista del Jardin Zoológico de Buenos Aires, 2(10): 305-387.
BALDUS, Herbert. 1937. Ensaios de Etnologia Brasileira. Companhia Editorial Nacional, São Paulo-Rio de Janeiro-Recife, 36pp.
BARBOSA, Luiz Bueno Horta. 1946. Reliquias exumadas de um cemitério Caingangue em “Parapuan”. COLEÇÃO Museu Histórico Índia Vanuíre: Microfilmes de S.P.I.
BARBOSA, Luiz Bueno Horta. 1947. A pacificação dos Caingangs paulistas: hábitos, costumes e instituições desses índios. In: BARBOSA, L. B. H. (Ed.), O Problema Indígena no Brasil. Publicação da Comissão Rondon, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 88: 33-73.
BARBOSA, Luiz Bueno Horta. 1954. Relatório dos trabalhos realizados pela inspetoria do serviço de proteção aos índios e localização de trabalhadores nacionais em São Paulo durante o ano de 1916. Revista do Museu Paulista, v. 8, Nova Série, São Paulo.
BASS, William M. 1995. Human Osteology: A laboratory and Field Manual. Missouri Archaeological Society Inc., Special Publication No.2, Columbia.
BECKER, Itala Irene Basile. 1976. O Índio Kaingáng no Rio Grande do Sul. Pesquisas Antropologia, 29.
BORBA, Telêmaco. 1908. Actualidade indígena. Curitiba: Impressora Paranaense.
BORELLI, Silvia Helena Simões. 1984. Os Kaingang no estado de São Paulo: constantes históricas e violência deliberada. Índios no Estado de São Paulo: resistência e transfiguração. São Paulo, Yankatu.
BRUNO, Cristina. 2009. Estudos de cultura material e coleções museológicas: avanços, retrocessos e desafios. In: GRANATO, Marcus; RANGEL, Márcio F. (Orgs.) Cultura material e patrimônio da ciência e tecnologia. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST.
CARVER, Martin. 2013. Archaeological investigation. Routledge.
CAVALCANTE, Marita Porto. 1987. Fonologia e Morfologia da Língua Kaingang: o dialeto de São Paulo comparado com o do Paraná. Tese de Doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. 149pp.
COLWELL-CHANTHAPHONH, Chip. 2009. The Archaeologist as a World Citizen. In: MESKELL, L. (Ed.). Cosmopolitan Archaeologies. Duke University Press, pp. 140-165.
CRÉPEAU, Robert R. 2002. A prática do xamanismo entre os Kaingang do Brasil Meridional: Uma breve comparação com o xamanismo Bororo. Horizontes Antropológicos, 8(18): 113-129.
D’ANGELIS, Wilmar. 1998. Traços de modo e modos de traçar geométricas: línguas Macro-Jê & teoria fonológica. Tese de Doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.
DRUMOND, Carlos & PHILIPSON, Jürgen. 1947. Os túmulos Kaingang de Parapuã. Sociologia: Revista Didática e Científica. São Paulo, 9(4): 386-393.
FIDALGO, Daniel; RODRIGUES, Robson & BONFANTE, Ricardo. 2016. Perfil Biológico dos remanescentes osteológicos Kaingang do Museu Índia Vanuíre (Tupã, São Paulo). Anais do IV Seminário Internacional Pós-Graduação em Ciências Sociais, Uberlândia, Minas Gerais, 1: 879-894.
GODOY, Oscar. 1947. Esqueletos e utensílios de índios encontrados no Estado de São Paulo. Separata dos Arquivos da Polícia Civil de São Paulo, São Paulo, 13.
HATTORI, Márcia Lika & STRAUSS, André Menezes. 2016. Kiju Sakai: o antropólogo japonês que dedicou sua vida a estudar o Brasil na primeira metade do século XX. Boletim do Museu Paranaense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, 11 (3): 715-726.
IHERING, Hermann von. 1903. El Hombre prehistorico del Brazil. Historia, Tomo 1, Buenos Aires.
IHERING, Hermann von. 1904. Os Guayanãs e Caingangs de São Paulo. Revista do Museu Paulista, 6: 23-44.
IHERING, Hermann von. 1907. A anthropologia do estado de São Paulo. Revista do Museu Paulista, 7: 202-259.
KOENIGSWALD, Gustav von. 1908. Die Coroados in sudlichen Brasilien. Globus, 94: 45-49.
LIGHTFOOT, Kent G. 1995. Culture contact studies: redefining the relationship between prehistoric and historical archaeology. American Antiquity, 60(2): 199-217.
LOURENÇO, Marília Sene. 2011. A presença dos antigos em tempos de conversão: etnografia dos Kaingang do oeste paulista. Dissertação de Mestrado. São Carlos, Universidade Federal de São Carlos.
MABILDE, Pierre François Alphonse. 1983. Apontamentos sobre os indígenas selvagens da Nação dos Coroados dos Matos do Rio Grande do Sul. IBRASA, São Paulo.
MACHADO, Juliana S. 2013. História(S) Indígena(S) e a Prática Arqueológica Colaborativa. Revista de Arqueologia, 26 (1): 72-85.
MANIZER, Henrich Henrikhovitch. 1930. Les Kaingang de São Paulo. Proceedings of the 23rd International Congress of Americanists, New York, pp. 760–791.
MANIZER, Henrich Henrikhovitch. 2006. Os Kaingang de São Paulo. Ed. Curt Nimuendajú, Campinas.
MÉTRAUX, Alfred. 1946. The Caingang. In: STEWARD, J. H. (Ed.) Handbook of South American Indians. Cooper Square Publishers, Inc., New York, pp. 445-475.
NEVES, Walter; BERNARDO, Danilo Vicensotto; OKUMURA, Mercedes; ALMEIDA, Tânia Ferreira & STRAUSS, André Menezes. 2011. Origem e dispersão dos Tupiguarani: o que diz a morfologia craniana? Boletim do Museu Paranaense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 6(1):95-122.
NIMUENDAJÚ, Curt. 1982. Textos indigenistas, relatórios, monografias e cartas. São Paulo: Loyola.
NIMUENDAJÚ, Curt. 2013. Quanto à Questão Coroado. Tellus, 24: 291-297.
NOELLI, Francisco Silva & SILVA, Fabíola Andréa. 1998. Bibliografia Kaingang: referências sobre um povo Jê do Sul do Brasil. Editora Universidade Estadual de Londrina.
POURCHET, Maria Júlia. 1983. Ensaios e Pesquisas Kaingang. São Paulo, Editora Ática.
REYES, Maria Regina Andrade. 2008. Promissão: sua história e sua gente. Editora Lagos, 2ª Edição, São Paulo.
ROBERTS, Charlotte A. 2009. Human remains in archaeology: a handbook. Council for British Archaeology, n. 19.
ROCA, Andrea. 2015. Acerca dos processos de indigenização dos museus: uma análise comparativa. MANA, 21(1): 123-155.
RODRIGUES, Robson. 2007. Os caçadores-ceramistas do sertão paulista: um estudo etnoarqueológico da ocupação Kaingang no vale do rio Feio/Aguapeí. Tese de Doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.
RODRIGUES, Robson. 2016. A compreensão do território Kaingang no Oeste Paulista a partir da cultura material: possibilidades interpretativas na análise arqueológica. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 27: 44-54.
RUBERTONE, Patricia E. 2000. The Historical Archaeology of Native Americans. Annual Review of Anthropology, 29: 425 – 446.
SAKAI, Kiju. 1981. Notas arqueológicas do Estado de São Paulo. Instituto Paulista de Arqueologia, São Paulo: Nippon Art.
SCARRE, Geoffrey. 2006. Can Archaeology harm the dead? In: SCARRE, C. & SCARRE, G. (eds). The Ethics of Archaeology, Philosophical perspectives on archaeological practice. Cambridge University Press, pp. 181-198.
SCHADEN, Egon. 1954. Os primitivos habitantes do território paulista. Revista de História, 8 (18): 385-406.
SEMEDO; Alice; FERREIRA, Inês. 2011. Museus e Museologia: desafios para a construção de territórios colaborativos. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. 21: 97-119.
SILVA, Fabíola. A. 2015. Arqueologia colaborativa com os Asurini do Xingu: Um relato sobre a pesquisa no igarapé Piranhaquara, T.I. Koatinemo. Revista de Antropologia, 58(2): 143-172.
SILVA, Fabíola. A. & BESPALEZ, Eduardo; STUCHI, Francisco. F. 2011. Arqueologia colaborativa na amazônia: Terra Indígena Kuatinemu, Rio Xingu, Pará. Amazônica - Revista de Antropologia, 3 (1): 32-59.
SILVA, Fabíola. A & GARCIA, Lorena. L. W. G. 2015. Território e memória dos Asurini do Xingu: Arqueologia colaborativa na T.I. Kuatinemu, Pará. Amazônica - Revista de Antropologia, 7 (1): 74-99.
SILVA, Fabíola A. 2012. O plural e o singular das arqueologias indígenas. Revista de Arqueologia, 25(2): 24-42.
SILVA, Fabíola Andréa & NOELLI, Francisco Silva. 2016. História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 27: 5-20.
SILVEIRA, Flávio L. A. & LIMA FILHO, Manuel F. 2005. Por uma antropologia do objeto documental: entre a “alma das coisas” e a coisificação do objeto. Horizontes Antropológicos, 11 (23):37-50
SOUZA, Marcos André Torres. 2017. A arqueologia dos grupos indígenas em contextos históricos: problemas e questões. Revista de Arqueologia, 30 (1): 144-153.
SOUZA, Sheila Mendonça & RODRIGUES-CARVALHO, Cláudia. 2013. ‘Ossos no chão’: para uma abordagem dos remanescentes humanos em campo. Boletim do Museu Paranaense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, 8 (3): 551-566.
TARLOW, Sarah. 2006. Archaeological ethics and the people of the past. In: SCARRE, C.; SCARRE, G. (Eds.). The ethics of archaeology: Philosophical perspectives on archaeological practice. Cambridge University Press, pp. 199-216.
VEIGA, Juracilda. 2000. Cosmologia e práticas rituais Kaingang. Tese de Doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
VEIGA, Juracilda. 2016. Contribuição da etnografia dos Jê Meridionais à Arqueologia. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 27: 21-29.
WATSON, Nicole. 2003. The repatriation of Indigenous remains in the United States of America and Australia: a comparative analysis. Australian Indigenous Law Reporter, 8: 33.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Daniel Ferreira Fidalgo, Robson Rodrigues, Ricardo Bonfante

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.