Da pré-história à história indígena
(Re) pensando a arqueologia e os povos canoeiros do pantanal
DOI:
https://doi.org/10.24885/sab.v16i1.180Palavras-chave:
Arqueologia, Guató, História Indígena, Historiografia, PantanalResumo
Nesta tese de doutorado o autor analisa criticamente a história e a historiografia da arqueologia pantaneira, desde a segunda metade do século XIX até fins do século XX, e aborda o processo de ocupação indígena das terras baixas do Pantanal, desde os primeiros pescadores-caçadores-coletores do período pré-colonial até os atuais canoeiros Guató. O objetivo maior é contribuir para a composição de uma história indígena total, em seus múltiplos aspectos e perspectivas espaço-temporais, a partir de uma abordagem interdisciplinar que emprega procedimentos teórico-metodológicos próprios da arqueologia, antropologia e história. Para tanto, foram utilizados dados contidos em fontes textuais diversas, informações recolhidas a partir da tradição oral dos Guató e os resultados de pesquisas arqueológicas, etnográficas e etnoarqueológicas. Foi possível demonstrar que a arqueologia pantaneira tem sido pautada pelo estudo de povos pescadores-caçadores-coletores, associados à macro tecnologia ceramista conhecida no Brasil como tradição Pantanal e a estruturas monticulares do tipo aterro, os quais se estabeleceram na região muito antes do início da Era Cristã. Nos dias de hoje, a arqueologia pantaneira reflete as mesmas mudanças de nuance constatadas para a arqueologia brasileira desde a década de 1980. Nos séculos XVI, XVII e XVIII, período de muitas disputas entre Espanha e Portugal pelo domínio do alto Paraguai, foram produzidos vários relatos que atestam a existência de um extraordinário mosaico sociocultural no centro da América do Sul, inclusive de um complexo de povos canoeiros formado por sociedades cultural e lingüisticamente distintas. De todas essas sociedades, a dos Guató é a mais conhecida do ponto de vista etnoistórico e etnológico, estando tradicionalmente organizada em grupos domésticos ligados por laços de consangüinidade, descendência e afinidade, relacionados a um particular sistema de patrilocalidade e patrilinearidade.
Downloads
Referências
ARNOLD, J. E. 1992. Complex hunter-gatherer-fishers of prehistoric California: chiefs, specialists, and maritime adaptations of the channel islands. American Antiquity, Washington, 57(1):60-84.
––––––––––. 1997. Bigger boats, crowded creekbanks: environmental stress in perspective. American Antiquity, Washington, 62(2):337-339.
ARNOLD, J. E. et al. 1997. Contexts of cultural change in Insular California. American Antiquity, Washington, 62(2):300-318.
BINFORD, L. R. 2001. Constructing frames of reference: an analytical method for archaeological theory building using hunter-gatherer and environmental data sets. Berkeley, University of California Press.
BROCHADO, J. J. J. P. 1984. An ecological model of the spread of pottery and Agriculture into Eastern South America. PhD Tesis. Urbana-Champaign, University of Ilinois at Urbana-Champaign.
EREMITES DE OLIVEIRA, J. 1995a. Os argonautas Guató: aportes para o conhecimento dos assentamentos e da subsistência dos grupos que se estabeleceram nas áreas inundáveis do Pantanal Matogrossense. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, PUCRS.
––––––––––. 1995b. Os aterros do Rio Grande do Sul: em busca de um modelo de assentamentos e subsistência através da sua comparação com os aterros da Lagoa do Jacadigo, Pantanal Matogrossense. Relatório de pesquisa do Programa de Recém-mestre da FAPERGS. São Leopoldo, IAP-UNISINOS/FAPERGS. (não publicado)
––––––––––. 1996. Guató: argonautas do Pantanal. Porto Alegre, Edipucrs.
––––––––––. 1998. Diagnóstico sócio-ambiental da Reserva Indígena Guató – Ilha Ínsua: contribuições de um arqueólogo. Fronteiras, Campo Grande, 2(4):103-122.
––––––––––. 2001. A história indígena em Mato Grosso do Sul: dilemas e perspectivas. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, 2(2):115-124.
––––––––––. 2002a. Da pré-história à história indígena: (re) pensando a arqueologia e os povos canoeiros do Pantanal. Tese de Doutorado. Porto Alegre, PUCRS.
––––––––––. 2002b. A arqueologia brasileira da década de 1980 ao início do século XX: uma avaliação histórica e historiográfica. Estudos Ibero-americanos, Porto Alegre, 28(2):25-52.
––––––––––. 2003a. Los primeros pasos en dirección a una arqueología pantanera: de Max Schmidt y Branka Susnik hacia otras interpretaciones sobre los pueblos indígenas de las tierras bajas del Pantanal. Suplemento Antropológico, Asunción, 38(2):9-72.
––––––––––. 2003b. Sobre os conceitos e relações entre etnoistória e história indígena. Prosa, Campo Grande, 3(1):39-47.
––––––––––. 2003c. Origens do povoamento indígena do Pantanal: aportes para uma nova revisão arqueológica. Pós-história, Assis, 11:159-184.
––––––––––. 2004. Arqueologia das sociedades indígenas no Pantanal. Campo Grande, Editora Oeste.
––––––––––. 2005. Por uma arqueologia socialmente engajada: arqueologia pública, universidade pública e cidadania. In FUNARI, P. P. A. Identidades, discurso e poder: ensaios da arqueologia contemporânea. São Paulo, Annablume/Fapesp, pp.117-132.
EREMITES DE OLIVEIRA, J. & VIANA, S. A. 1999/2000. O Centro-Oeste antes de Cabral. Revista USP, São Paulo, 44(1):142-189.
FONSECA, J. S. da. 1880. Viagem ao redor do Brasil (1875-1878). Rio de Janeiro, Typographia de Pinheiro & C., 2v.
FUNARI, P. P. A. 1989. Brazilian Archaeology and World Archaeology: some remarks. World Archaeological Bulletin, 3:60-68.
FUNARI, P. P. A. 1992. La Arqueología en Brasil: política y academia en una encrucijada. In POLITIS, G. G. (Ed.). Arqueología en América Latina hoy. Bogotá, Biblioteca Banco Popular, pp.57-69.
––––––––––. 1994. Arqueologia Brasileira: visão geral e reavaliação. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, 1:23-41.
––––––––––. 1999. A importância da teoria arqueológica internacional para a Arqueologia Sul-americana: o caso brasileiro. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia (Série Suplemento), São Paulo, 3:213-220.
GIRELLI, M. 1994. Lajedos com gravuras na região de Corumbá, MS. Dissertação de Mestrado. São Leopoldo, UNISINOS.
HERBERTS, A. L. 1998. Os Mbayá-Guaycuru: área, assentamento, subsistência e cultura material.Dissertação de Mestrado. São Leopoldo, UNISINOS.
LIMA, T. A. 2000a. Complexidade emergente entre caçadores-coletores: uma nova questão para a pré-história brasileira. In MENDONÇA DE SOUZA, S. M. F. (Org.). Anais do IX Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, SAB. (cd-rom).
––––––––––. 2000b. Os construtores de sambaquis: complexidade emergente no litoral sul/sudeste brasileiro. In MENDONÇA DE SOUZA, S. M. F. (Org.). Anais do IX Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, SAB. (cd-rom).
LIMA, T. A. & LÓPEZ MAZZ, J. M. 2000. La emergencia de complejidad entre los cazadores recolectores de la costa atlántica meridional sudamericana. Revista de Arqueología Americana, México, 17-19:129-175.
LÓPEZ MAZZ, J. M. 1994. Uso y organización del espacio en las tierras bajas de la cuenca de la Laguna Merín. Revista de Arqueologia, São Paulo, 8(2):181-204.
––––––––––. 1998. La construcción de túmulos entre cazadores-coletores complexos del Este de Uruguay: la emergencia de la complejidade entre cazadores-coletores. Fronteiras, Campo Grande, 2(4):297-310.
––––––––––. 2001. Las estructuras tumulares (cerritos) del litoral atlántico uruguayo. Latin American Antiquity, Washington, 12(3):231-255.
MAGALHÃES, M. L. 1999. Payaguá: os senhores do rio Paraguai. Dissertação de Mestrado. São Leopoldo, UNISINOS.
MIGLIACIO, M. C. 2000. A ocupação pré-colonial do Pantanal de Cáceres, Mato Grosso: uma leitura preliminar. Dissertação de Mestrado. São Paulo, USP.
PEIXOTO, J. L. dos S. 1995. A ocupação Tupiguarani na borda oeste do Pantanal Sul-matogrossense: maciço de Urucum. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, PUCRS.
––––––––––. 2002. A ocupação dos povos indígenas pré-coloniais nos grandes lagos do Pantanal Sulmato-grossense. Tese de Doutorado. Porto Alegre, PUCRS.
PEIXOTO, J. L. dos S. & SCHMITZ, P. I. 1998. A Missão de Nossa Senhora do Bom Conselho, Pantanal, Mato Grosso do Sul. Pesquisas (Série História), São Leopoldo, 30:133-155.
POLITIS, G. G. 2002. Acerca de la etnoarqueología en América del Sur. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 8(18):61-91.
SCHMIDT, M. 1902. Die Guató. Verhandlungen der Berliner Anthropologischen Gesellschaft, Berlin, 15 Feb., pp.77-89.
––––––––––. 1905. Indianerstudien in Zentralbrasilien. Erlebnisse und ethnologische Ergebnisse einer Reise in den Jahren 1900 bis 1901. Berlin, Dietrich Reimer.
––––––––––. 1912. Reisen in Matto Grosso im Jahre 1910. Zeitschrift für Ethnologie, Berlin, 44(1):130-174.
SCHMIDT, M. 1914. Die Guato und ihr Gebiet. Ethnologische und archäologische Ergebnisse der Expedition zum Caracara-fluss in Matto-Grosso. Baessler-Archiv, Berlin, 4(6):251-283.
––––––––––. 1928. Ergebnisse meiner zweijährigen Forschungsreise in Mato-Grosso; September 1926 bis August 1928. Zeitschrift für Ethnologie, Berlin, 60(1-3):85-124.
––––––––––. 1940a. Hallazgos prehistóricos en Matto-Grosso. Revista de la Sociedad Científica del Paraguay, Asunción, 1(5):27-62.
––––––––––. 1940b. Nuevos hallazgos de grabados rupestres en Matto Grosso. Revista de la Sociedad Científica del Paraguay, Asunción, 1(5):63-71.
––––––––––. 1942a. Estudos de Etnologia Brasileira: peripécias de uma viagem entre 1900 e 1901. Seus resultados etnológicos. Trad. de C. B. Cannabrava. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
––––––––––. 1942b. Resultados de mi tercera expedición a los Guatos efectuada en el año de 1928. Revista de la Sociedad Científica del Paraguay, Asunción, 5(6):41-75.
––––––––––. 1942c. Resultados de minha expedição bienal a Mato-Grosso. Boletim do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 14-17:141-285.
––––––––––. 1949. Los Payaguás. Revista do Museu Paulista (Nova Série), São Paulo, 3:129 270.
––––––––––. 1951. Anotaciones sobre las plantas de cultivo y los métodos de agricultura de los Indígenas sudamericanos. Revista do Museu Paulista (Nova Série), São Paulo, 5:239-252.
––––––––––. 1959. El Sistema de la Etnología: primera parte. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero/Sociedad Científica del Paraguay.
SCHMITZ, P. I. et al. 1998. Aterros indígenas no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Pesquisas (Série Antropologia), São Leopoldo, 54:1-271.
––––––––––. 2000a. O Projeto Corumbá, oito anos de pesquisa no Pantanal do Mato Grosso do Sul. In: SOUZA, S. M. F. M. de (Org.). Anais do IX Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, SAB. (cd-rom)
––––––––––. 2000b. Arqueologia do Pantanal do Mato Grosso do Sul: Projeto Corumbá. In CAMPOS, T. de S. & RIBEIRO, L. M. M. (Coord.). Pantanal 2000: Encontro Internacional de Integração Técnico-Científica para o Desenvolvimento Sustentável do Cerrado e Pantanal. Corumbá, UCDB, pp.141-152.
SCHUCH, M. E. J. 1995. Xaray e Chané: índios frente à expansão espanhola e portuguesa no Alto Paraguai. Dissertação de Mestrado. São Leopoldo, UNISINOS.
SUSNIK, B. 1959a. Material arqueológico del área alto-paraguayense. Boletín de la Sociedad Científica del Paraguay y del Museo Etnográfico Andrés Barbero, Asunción, 3:81-103.
––––––––––. 1959b. Notas complementarias. In SCHMIDT, M. El Sistema de la Etnología: primera parte. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero/Sociedad Científica del Paraguay, pp.129-217.
––––––––––. 1961. Clasificación de las poblaciones indígenas del área chaqueña. In SUSNIK, B. J. Manual de Etnografía Paraguaya. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero, pp.209-212.
SUSNIK, B. 1965. El indio colonial del Paraguay. El Guaraní colonial. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero, t.1.
––––––––––. 1972a. Dimensiones migratorias y pautas culturales de los pueblos del Gran Chaco y de su periferia (enfoque etnológico). Resistencia, Universidad del Nordeste.
––––––––––. 1972b. Dimensiones migratorias y pautas culturales de los pueblos del Gran Chaco y de su periferia (enfoque etnológico). Suplemento Antropológico, Asunción, 1-2(7):85-107.
––––––––––. 1975. Dispersión Tupí-Guaraní prehistórica: ensayo analítico. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1978. Etnología del Chaco Boreal y su periferia (siglos XVI y XVIII). Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1982. Cultura Material (Guaraníes y Chaquenhos). Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1984. Guía del Museo: Etnografía Paraguaya. 9ª ed. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1987. Las características etno-socio-culturales de los aborígenes del Paraguay en el siglo XVI. Historia Paraguaya, Asunción, 24:81-103.
––––––––––. 1991. Prof. Dr. Max Schmidt: su contribución etnológica y su personalidad. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1992. Introducción a las fuentes documentales referentes al indio colonial del Paraguay. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1994. Interpretación etnocultural de la Complejidad Sudamericana Antigua – I: formación y dispersión étnica. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1995. Interpretación etnocultural de la Complejidad Sudamericana Antigua – II: el hombre, persona y agente ergológico. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1995. Chamacocos I: cambio cultural. 2ª ed., Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1996. Poblados – Viviendas: manufactura utilitaria (ámbito sudamericano). Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
––––––––––. 1998a. Artesanía Indígena. Asunción, El Lector.
––––––––––. 1998b. Tendencias psicosociales y verbomentales Guaycuru-Maskoy-Zamuco: enforque analítico. Asunción, Museo Etnográfico Andrés Barbero.
YOFFEE, N. 1995. Teoria social evolucionária e seus descontentes. Trad. de J. J. J. P. Brochado. In: KERN, A. A. (Org.). Anais da VIII Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Porto Alegre, Edipucrs, 1:107-126.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Jorge Eremites de Oliveira

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.